"Nzambi a tu bane nguzu um kukaiela"

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Esperança revolucionária: uma conversa entre James Baldwin e Audre Lorde - Texto 2

O Museu de Arte Contemporânea da Diáspora Africana republicou essa conversa entre os pensadores icônicos James Baldwin e Audre Lorde na página deles no Tumblr. (link abaixo) A conversa aconteceu no Hampshire College em Amherst, Massachusetts e foi originalmente publicada na reviste ESSENCE em 1984. O diálogo revela a importância de reconhecer que história raciais compartilhadas não podem ofuscar a história divergente de gênero entre homem e mulher Negra. Link para o texto original: http://mocada-museum.tumblr.com/…/revolutionary-hope-a-conv… JB: Um dos perigos em ser um americano Negro é ser esquizofrênico, e eu digo “esquizofrênico” no sentido mais literal. Ser um americano Negro é, de certo modo, nascer com o desejo de ser branco. Podemos retornar ao Vietnã, podemos retornar a Coréia. Podemos retornar até mesmo a Primeira Guerra Mundial. Podemos retornar a WEB Du Bois – um homem lindo e honrado – que fez campanha para persuadir o povo Negro a lutar na Primeira Guerra Mundial, dizendo que se lutássemos nessa guerra para salvar o país, nosso direito a cidadania não poderia ser nunca, nunca questionado novamente – e quem pode culpá-lo? Ele realmente quis dizer isso, e se eu estivesse lá naquele momento eu teria dito também, talvez. Du Bois acreditava no sonho americano. Martin também. Malcom também. Eu também. Você também. E é por isso que estamos sentados aqui. AL: Eu não, querido. Sinto muito. Eu simplesmente não posso deixar isso passar batido. Bem lá no fundo sempre soube que aquele sonho nunca foi meu. E eu chorei e lutei, mas eu sempre soube. Eu era negra. Eu era mulher. E eu estava de fora – fora – de qualquer construção em qualquer lugar que o poder estivesse estabelecido. Se eu tivesse que arranhar-me insanamente, se eu vivesse, eu teria que fazer isso sozinha. Ninguém estava sonhando comigo. Ninguém estava me estudando a não ser como algo a ser chicoteado. JB: Você está dizendo que não existe no sonho Americano a não ser como um pesadelo. AL: Isso mesmo. E eu sabia disso toda vez que abria o Jet, também. Eu sabia disso toda vez que abria uma caixa Kotex. Eu sabia disso toda vez que ia pra escola. Eu sabia disso toda vez que abria um livro de oração. Eu sabia, eu simplesmente sabia. JB: É difícil nascer em um lugar onde você é desprezado e que, também, te prometem que com empenho – com isso, com aquilo, sabe –você pode conseguir o impossível. Você está tentando lidar com o homem, a mulher, a criança – a criança de qualquer sexo – e ele ou ela e seu homem ou sua mulher tem de lidar com o os fatos da vida nesse país 24 horas por dia. Nós não iremos voar para outro lugar, sabe, melhor passarmos por cima de qualquer coisa que aquele dia seja e ainda ter um ao outro e criar nossas crianças – de alguma forma cuidar de tudo isso. E isso é 24 horas de todos os dias e você está rodeado por toda a parafernalha da segurança: se você conseguir essa barganha. Se se certificar que suas axilas estão inodoras. Cachear o seu cabelo. Ser impecável. Ser todas as coisas que o público Americano diz que você deve fazer, certo? Você faz todas essas coisas –e nada acontece. E o que é pior que isso é que nada acontece com seu filho também. AL: O que é ainda pior que o pesadelo é o vazio. E mulheres Negras são o vazio. Eu não quero acabar com isso, e depois ter que parar na parede de divisão masculino/feminino. Quando nós admitirmos e lidarmos com a diferença; quando lidarmos com a profunda amargura; quando lidarmos com os horrores dos nossos mais diversos pesadelos; quando virarmos eles e olharmos para eles, é como olhar para a morte: difícil, mas possível. Se você olhar diretamente para isso, mas sem abraçar, é que existe muito menos que se possa fazer pelo medo. JB: Eu concordo. AL: Bem, da mesma forma que olhamos para nossas diferenças e não nos permitimos estar divididos, quando as possuímos e não nos dividirmos por elas é quando seremos capazes de seguir em frente. Mas não alcançamos o ponto de partida ainda. JB: Não tenho certeza disso. Eu acho que a ideia negra (afrikana) de “masculino” e “feminino” é bem mais sofisticada que a ideia ocidental. Eu penso que homens e mulheres Negras são bem menos influenciados por essa questão de gênero ou preferência sexual – toda aquela coisa. Isso é, pelo menos, verdadeiro de acordo com minha experiência. AL: É, mas vamos nos remover dessa posição meramente reativa – isto é, homens Negros e mulheres (negras) reagindo ao que está por aí. Enquanto reagimos ao que está por aí, estamos também lidando entre com o que acontece entre nós – e entre nós existem diferenças de poder… JB: Ah, sim… AL: Lidar com a maneira que vivemos, reconhecer as diferenças uns dos outros é algo que ainda não aconteceu… JB: Diferenças e igualdades. AL: Diferenças e igualdades. Mas em uma crise, quando todos os nossos traseiros estão em jogo, parece que é mais fácil lidar com as igualdades. Quando lidamos somente com igualdades, nós desenvolvemos armas para usar uns contra os outros quando as diferenças tornam-se aparentes. E chicoteamos uns aos outros – homens Negros e mulheres (negras) podem chicotear uns aos outros – e muito mais efetivamente que as pessoas de fora fazem. JB: É verdade. AL: Nosso sangue está quente, estamos furiosos. Digo, é o que mulheres Negras fazem umas com as outras, homens Negros fazem uns com os outros e pessoas Negras fazem umas com as outras. Estamos com esse negócio de chicotear um ao outro de qualquer maneira – e fazendo o trabalho do nosso inimigido. JB: É bem verdade. AL: Precisamos tomar conhecimento dessas diferenças de poder entre nós e ver aonde elas irão nos levar. Uma grande quantidade de energia está sendo usada em negar as diferenças de poder entre homens Negros e mulheres (negras) ou lutar contra as diferenças de poder entre homens e mulheres Negras ou matar uns aos outros pelas suas costas. Estou falando de sangue de mulheres Negras escorrendo pelas ruas – e como ensinamos a um menino de 14 anos que eu não sou o alvo legítimo da raiva dele? Meu sangue não vai lavar o seu horror. É isso que estou interessada em fazer meninos Negros entenderem. Tem menininhas Negras tendo filhos. Mas não é uma concepção imaculada, e de outro lado temos meninos Negros fazendo filhos, também. Tem criancinhas Negras fazendo criancinhas Negras. Eu quero lidar com isso para que nossas crianças não tenham que repetir esse desperdício deles mesmos. JB: Eu te entendo – mas deixe-me recuar, por bem ou por mal. Sabe, por alguma razão seja certa ou errada, há gerações homens vieram ao mundo, instintivamente sabendo ou acreditando ou sendo ensinados que uma vez que são homens eles precisam, de qualquer maneira, serem responsáveis pelas mulheres e crianças, ou seja, o universo. AL: Hmmm. JB: Acho que não existe uma maneira de contornar isso. AL: Contornar isso agora? JB: Não acho que seja possível contornar esse fato. AL: Se conseguimos colocar as pessoas na lua e explodir esse planeta; se conseguimos considerar cavar 18 polegadas de sujeira de radioatividade dos atóis de biquínis e, de alguma maneira, encontrar alguma coisa a ver com isso – se podemos fazer isso, nós enquanto trabalhadores de cultura Negra podemos contornar isso – porque ninguém mais está comprando a “política das cavernas” – “Mate o mamute ou então a espécie será extinta’. Nós estamos além disso. Aquelas crianças inferiores no sexto ano – Eu quero que essas crianças Negras saibam que a força bruta não é uma maneira legítima de lidar com a diferença sexual. Eu quero estabelecer diferentes paradigmas. JB: É, mas existe uma diferença real entre o jeito que um homem olha para o mundo… AL: Sim, sim… JB: E o jeito que uma mulher olha para o mundo. Uma mulher sabe muito mais que um homem. AL: E por quê? Pela mesma razão que pessoas Negras sabem o que pessoas brancas estão pensando: tivemos que fazer isso por sobrevivência… JB: Tudo bem, tudo bem… AL: Estamos cansadas de servir como ponte. Você não vê? Não são as mulheres negras que estão derramando o sangue de homens Negros na rua – ainda. Não estamos rachando suas cabeças com machados. Não estamos atirando em vocês. Estamos dizendo, “Escutem, o que está acontecendo entre nós é relacionado ao que está acontecendo entre nós e outras pessoas,”, mas temos que resolver nossos próprios problemas ao mesmo tempo em que protegemos nossos traseiros Negros, porque se não o fizermos, estamos gastando energia que precisamos para sobrevivência conjunta. JB: Eu não estou discordando – mas se você coloca a discussão dessa maneira… veja, um homem também uma história para contar, somente porque ele é um homem… AL: Sim, sim, e é vital que eu esteja viva e apta a ouvi-la. JB: Sim. Porque somos a única esperança que temos. Uma desavença familiar é uma coisa; uma desavença pública é outra. E você e eu, sabe… - na cozinha, com as crianças, um com o outro ou na cama – temos muito que lidar um com o outro, mas temos de saber com o que estamos lidando. E não tem como contornar isso. Não tem como contornar isso. Eu sou um homem. Eu não sou uma mulher. AL: Tá certo, tá certo… JB: Ninguém vai me transformar em uma mulher. Você é uma mulher e não é um homem. Ninguém vai te transformar em um homem. E somos indispensáveis um para o outro, e as crianças dependem de nós dois. AL: É vital para mim que eu esteja apta a te ouvir, ouvir o que é que te define e para você me ouvir, ouvir o que é que me define – porque esse tempo todo que estamos operando do modo antigo não serve para ninguém, e, certamente, não tem servido para gente. JB: Eu sei disso. O que eu realmente acho é que nenhum de nós tem que provar alguma coisa, pelo menos não do mesmo jeito, se não estivéssemos na selva Norte-americana. E a inevitável discórdia entre irmão e irmã, entre homem e mulher… - vamos encará-la. Todas essas relações, as quais são baseadas no amor, também estão envolvidas nessa discussão. Porque nossa responsabilidade real é redefinir um ao outro infinitamente. Eu não posso viver sem você, e você não pode viver sem mim – e as crianças não podem viver sem nós. AL: Mas nós temos que nos definir por nós mesmos. Temos que nos redefinir por nós mesmos não importa quais são os alicerces da deturpação, o fato continua sendo que nós absorvemos isso. Todos nós absorvemos essa doença e ideias da mesma maneira que absorvemos o racismo. É fundamental que lidemos constantemente com o racismo, e com o racismo branco entre pessoas Negras – que o reconheçamos como uma área legítima de questionamento. Devemos também examinar a maneira como absorvemos sexismo e heterosexismo. Essas são as normas desse problema no qual nascemos – e precisamos examinar essas deturpações com o mesmo tipo de abertura e dedicação que examinamos o racismo… JB: Você usa a palavra “racismo”… AL: O ódio à pessoas Negras, ou à pessoas de cor… JB: -mas debaixo da palavra “racismo” dorme a palavra “segurança”. Por que é importante ser branco ou Negro? AL: Por que é importante ser homem em vez de ser mulher? JB: Nos dois casos é pressuposto que é mais seguro ser branco que ser Negro. E é pressuposto que é mais seguro ser homem que ser mulher. Essas duas suposições são masculinas. Mas essas são suposições que estamos tentando superar ou confrontar… AL: Confrontar, sim. A vulnerabilidade por trás dessas suposições masculinas é diferente para mim e para você, e nós devemos começar a olhar pra isso… JB: Sim, sim… AL: E a fúria que é gerada na negação dessa vulnerabilidade – temos que quebrá-la, porque tem crianças que estão crescendo acreditando que é permitido derramar sangue feminino, certo? Eu tenho que romper isso porque tem meninos que realmente pensam que a marca da masculinidade deles é engravidar uma menina da sexta série. Tenho que romper isso porque essa menina acha que a única coisa que ela tem na vida é o que está entre as pernas dela… JB: Sim, mas não estamos falando sobre homens e mulheres. Estamos falando sobre uma sociedade em particular. Estamos falando sobre um tempo e lugar em particular. Você estava falando do derramamento de sangue Negro nas ruas, mas eu não entendo -AL: Tá certo, os policiais estão matando os homens e os homens estão matando as mulheres. Estou falando de estupro. Estou falando de assassinato. JB: Eu não discordo de você, mas eu acho que você está atirando no alvo errado. Eu não estou tentando livrar homens Negros – ou sequer mulheres Negras – mas estou falando do reino onde vivemos. AL: Sim, eu concordo plenamente: o reino onde ocorrem essas deturpações tem que ser mudado. JB: Algo acontece com o homem que bate em mulher. Algo acontece com o homem que bate em sua avó. Algo acontece com o drogado. Eu sei bem disso. Eu andei pelas ruas do Harlem; Eu cresci lá, né? Agora você sabe que não é culpa do negro que me vê e tenta me assaltar. Eu aprendi isso. É responsabilidade dele, mas não é culpa dele. É uma nuance. Eu tenho que saber que ele não é meu inimigo quando ele bate na avó dele. A avó dele tem que saber disso. Estou tentando dizer que alguém tem que saber o que nos colocou na rua. Nós dois somos da mesma pista. Você entende o que eu digo? Eu já voltei para casa querendo bater em qualquer coisa que visse na minha frente – mas Audre, Audre… AL: Estou aqui, estou aqui… JB: Eu concordo com você. Sei exatamente o que quer dizer e isso me magoa tanto quanto magoa você. Mas como manobrar-se a passado este ponto? – como não perder a ele ou ela que podem estar no que é uma zona ocupada vigente? Essa é a situação Negra no país. Para o ghetto, tudo o que está faltando é arame farpado, e quando você encurrala as pessoas como animais a intenção é rebaixá-las e você as tem rebaixado. AL: Jimmy, não estamos discutindo. JB: Eu sei que não estamos. AL: O que estamos fazendo é discordar de verdade sobre a sua responsabilidade não só comigo, mas com meu filho e com nossos meninos. Sua responsabilidade com ele é fazer ele entender de um jeito que eu nunca serei capaz porque ele não saiu do meu corpo e tem outra relação comigo. Seu relacionamento com ele, como pai, é dizer a ele que eu não sou o alvo da fúria dele. JB: Certo, certo… AL: Está tão enraizado nele que virou uma parte dele tanto quanto a negritude é. JB: Tudo bem, tudo bem… AL: Eu não posso fazer isso. Você tem que fazer. JB: Certo, eu aceito – o desafio existe em qualquer caso. Nunca pensei que fosse ser o contrário. É absolutamente verdade. Eu só quero identificar onde está o perigo… AL: É, estamos em guerra… JB: Estamos atrás dos portões de um reino que é determinado a nos destruir. AL: Sim, exatamente. Estou interessada em ver nós não aceitarmos termos que irão ajudar destruirmos uns aos outros. E eu acho que uma das formas de destruir uns aos outros é agir sem pensar com nossas diferenças. Agir sem pensar no sexo, na sexualidade… JB: Eu não sei muito bem o que fazer por isso, mas concordo com você. E entendo exatamente o que quer dizer. Você está certa. Ficamos confusos com gêneros – com a noção ocidental do que é ser mulher, o que não é o que uma mulher necessariamente é. Não é certamente a noção Africana do que é ser uma mulher. Ou até mesmo a noção Européia do que é ser mulher. E, certamente, não existe um padrão de masculinidade nesse país que alguém possa respeitar. Parte do horror de ser um Negro norte-americano é estar preso em ser a imitação de uma imitação. AL: Não posso te dizer o que eu queria que você estivesse fazendo. Não posso redefinir o que é masculinidade. Nem posso redefinir masculinidade Negra, certamente. Estou nesse negócio de redefinir a mulheridade Negra. E você, a masculinidade Negra. E eu digo “Por favor, vá em frente e faça isso” porque eu não sei quanto tempo eu consigo segurar essa fortaleza, e eu realmente sinto que as mulheres Negras estão segurando-a e estamos começando a segurá-la de maneira que está deixando esse diálogo menos possível. JB: Sério? Por que você está dizendo isso? Eu não sinto isso. Para mim parece que você está culpando o homem negro pela cilada em que ele está. AL: Não estou culpando o homem negro; estou dizendo para não derramar meu sangue. Não estou culpando o homem negro. Estou dizendo que se meu sangue está sendo derramado, em algum momento eu vou ter uma razão legítima de sacar uma faca e cortar sua cabeça fora, e estou tentando não fazer isso. JB: Se você deixar um homem bravo, vai transformá-lo em uma fera – isso não tem nada a ver com a cor dele. AL: Se deixar uma mulher maluca, ela vai reagir como uma fera também. Existe uma estrutura maior, uma sociedade com a qual estamos em total e absoluta guerra. Vivemos na boca do dragão, e devemos estar capacitados a usar nossas forças para lutar contra isso juntos, porque precisamos uns dos outros. Estou dizendo que em uma batalha conjunta temos que desenvolver armas de verdade, e quando os colocamos contra eles mesmos ficam mais sanguinários, porque nos conhecemos de um jeito particular. Quando apontamos essas armas uns para os outros o derramamento de sangue é terrível. Pior ainda, estamos fazendo isso em uma estrutura onde já combatemos. Não estou negando. É uma discussão familiar que estou tendo agora. Não estou jogando culpa em ninguém. Não culpo homens negros pelo que são. Estou pedindo a eles para irem além. O que estou dizendo é: temos que olhar de forma diferente para o jeito que lutamos contra a opressão conjunta, porque se não, vamos nos explodir. Temos que começar a redefinir os termos do que é uma mulher, do que é um homem, como nos relacionamentos uns com os outros… JB: Mas isso significa redefinir os termos do mundo ocidental… AL: E todos nós temos que fazer isso; todos nós temos que fazer isso… JB: Mas você não compreende que nessa república o único crime real é ser um homem Negro? AL: Não, eu não compreendo isso. Eu entendo que o único crime é ser Negro, e isso me inclui também. JB: O homem negro tem um pau, e eles cortam fora. Um homem negro é um ***** quando tenta ser um modelo para seus filhos e proteger sua mulher. Esse é um crime principal nessa república. E cada homem Negro sabe disso. E cada mulher Negra paga por isso. E cada criança negra. Como você pode ser tão sentimental a ponto de culpar um Negro por uma situação em que ele não tem nada a ver com? AL: Você ainda não superou a questão da culpa. Não estou falando em culpa; estou falando de mudança… JB: Posso te dizer uma coisa? Posso te dizer uma coisa? Posso estar errado ou certo. AL: Não sei – me diga. JB: Você sabe o que acontece a um homem-? AL: Como eu vou saber o que acontece a um homem? JB: Você sabe o que acontece a um homem quando ele está envergonhando de si mesmo quando ele não consegue emprego? Quando as meias dele fedem? Quando ele não consegue proteger ninguém? Quando ele não pode fazer nada? Você sabe o que acontece a um homem quando ele não consegue encarar seus filhos porque ele está com vergonha de si mesmo? Não é como ser uma mulher… AL: Não, está certo. Você sabe o que acontece a uma mulher que dá a luz, coloca uma criança no mundo e tem que se prostituir para alimentá-la? Você sabe o que acontece a uma mulher quando ela enlouquece e bate em seus filhos do outro da sala porque está cheia de frustração e raiva? Você sabe o que é isso? Você sabe o que acontece a uma lésbica que vê sua mulher e seu filho apanhando na rua enquanto outros seis caras a seguram? Você conhece essa sensação? JB: Uhum.. AL: Bem, do mesmo jeito que você sabe como uma mulher de sente, eu sei como um homem se sente porque acontece do ser humano ficar frustrado e desvirtuado porque não conseguimos proteger as pessoas que amamos. Então, vamos começar daí -JB: Tudo bem, certo… AL: - vamos começar daí e entrar em um consenso.

Essence Magazine, 1984.

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