"Nzambi a tu bane nguzu um kukaiela"

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

“EU MULHER PRETA RESISTO” (PRETAS REVOLTADAS) - UCPA 06

RESISTÊNCIA DA MULHER PRETA DO PERÍODO ESCRAVOCRATA AO BRASIL CONTEMPORÂNEO




O período escravista foi a maior e mais abominável catástrofe humana praticada pelo homem branco, marcado pela opressão e extermínio do povo preto. Quando homens, mulheres e crianças pretas tiveram negado a sua condição de seres humanos, sendo condicionados a mercadoria. O trafico negreiro, enquanto pôde operar livremente foi uma fonte permanente e indispensável de mão de obra escrava e garantindo o funcionamento da sociedade colonial.




LUTA E RESISTÊCIA:
Mais do que um slogan, a resistência foi uma realidade na vida das africanas escravizadas, a presença da mulher preta se destacou na linha de frente pela libertação do povo preto. A mulher preta violentada, explorada, massacrada, condicionada a escrava reprodutora, teve sua condição de mulher negada, foi reduzida “a coisa”, objeto de trabalho forçado e prazer sexual do branco. Mãe das crianças que não desejou gerar, não podia amar seus filhos do estupro, institucionalizado ao seu corpo. Ama de leite de crianças brancas, não pôde amamentar seus próprios filhos, vendo seu direito à maternidade ser violado em prol dos interesses pessoais e econômicos dos senhores brancos escravocratas.
Privada de constituir família, de praticar sua religião de matriz africana, a mulher preta foi depositaria do ódio, vingança e rivalidade da senhora branca.
Como escrava, foi julgada e castigada, acusada do crime de ser lasciva, linda, forte e inteligente. Tornando-se alvo da inveja das brancas.
O Brasil escravocrata branco tentou, de todas as maneiras possíveis e imagináveis minar a resistência preta escravizada.




DAS SENSALAS A CASA GRANDE:
Inserida no trabalho produtivo e na manutenção e funcionamento da casa grande, a escrava vivia o mais cruel e perverso regime de exploração e dominação escravista. Mas, mesmo na situação de oprimida, foi guerreira, atuando na resistência de diversas formas, foi através da figura escrava, introduzida na casa grande que informações sobre possíveis ataques de mercenários brancos aos Quilombos, foram parar nas mãos de líderes pretos Quilombolas a tempo de se organizarem contra o ataque e resistirem. Foi também a escrava que muitas vezes, arriscou a própria vida para facilitar fugas de escravos. Mostrou-se resistente também quando, em atos de desespero cometeu infanticídio e suicídio na tentativa de preservar seus filhos da herança escravista. A mulher preta deu uma enorme contribuição na luta de resistência à escravidão.




MULHER PRETA NOS QUILOMBOS:
Inúmeras foram às fugas de mulheres pretas para os Quilombos, uma vez Quilombola, era das mulheres pretas a responsabilidade de organização e funcionamento da comunidade. Sua participação se deu de várias formas, no exercício de atividades domésticas, no plantio e na colheita agrária, no saqueamento à fazendas vizinhas para obter sementes e alimento, na fabricação artesanal, na maternidade e na continuação da genealogia, foi contadora de estórias, transmitindo a sabedoria milenar da cultura e costumes africanos.
A Quilombola foi quem praticou e ensinou a resistência.
Algumas delas se destacaram na afirmação sócio-existencial preta que formaram os Quilombos.
Aqualtune – líder do quilombo de Palmares. Era princesa na África, filha do rei do Congo, foi vendida como escrava no Brasil, organizou sua fuga e de outras escravas para Palmares e, ao lado de Ganga Zumba, iniciou o processo de organização do Estado de Palmares, chefiando uma das povoações que levou o seu nome, o Mocambo de Aqualtune.
Teresa do Quariterê - rainha do Quilombo do Quariterê por duas décadas no século XVIII, nascida em Benguela (Angola), liderou grupos de africanos e índios, instalados próximos a Cuiabá, na fronteira de Mato Groso com a Bolívia. O Quilombo de Quariterê sobreviveu até 1770, contava com um parlamento conselheiro de um sistema de defesa organizado. Teresa exercia grande poder e influencia no Quilombo. Este possuía uma agricultura de algodão e alimentos bem desenvolvidos, possuía teares de fabricação de tecidos que se comercializava fora do Quilombo. A mulher preta se fez resistente.




RELIGIÃO E RESISTÊNCIA PRETA FEMININA:
A religião de matrizes africana encontrou na mulher preta sua principal esteia para a preservação das tradições religiosas e culturais do povo africano. Os terreiros surgiram de confrarias religiosas baianas, especificamente da Ordem Terceira do Rosário de Nossa Senhora das Portas do Carmo, fundada na Igreja de Nossa Senhora do Rosário do Pelourinho (Mulheres de Angola) e da Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte na Igreja da Barroquinha (Mulheres Nagô).
Na Bahia foi onde a primeira comunidade africana que organizou publicamente um terreiro de culto aos Orixás, chamado de Iyá Omi Axé Aira Intilê, surgiu na Barroquinha, foi fundado por duas africanas descendentes de Keto as sacerdotisas Iyálussô Danadana e Iyánassô Akalá. Do Iyá Omi Axé Aira Intilê saíram os mais importantes terreiros Nagô que fizeram da Bahia uma copia da Civilização de Ilê-Ifé (Atual Nigéria). Mãe Aninha Obabii fundou o Ilê Axé Opô Afonjá, porém outros nomes que se destacaram na tradição dos terreiros baianos, tais como Maria Bibiana do Espírito Santo (Mãe Senhora), sucessora de Mãe Aninha Obabii, no Ilê Axé Opô Afonjá.



PRETAS REVOLTADAS

U.C.P.A. Nº 06 – ANO II – 02/2003

3 comentários:

Unknown disse...

O comentário que tenho a fazer,é que preto e cor e negro é uma grande raça!!!

Surama Caggiano disse...

Tenho uma exposição que será realizada em maio de 2010 em homenagem a mulher africana, tenho um blog que mostra uma parte desse trabalho www.artesurama.blogspot.com gostaria de enviar um convite da exposição para vocês, poderiam me passar seu email?
grande abraço.

Atenciosamente

Surama

União dos Coletivos Pan-Africanistas disse...

Parabéns pelo belo trabalho, e contribuição a nossa comunidade. Agradecemos pelo convite, e gostariamos de contemplar esse momento único. Nosso e-mail é territorio.africano@gmail.com. Um Abraço. Axé. Alaru