"Nzambi a tu bane nguzu um kukaiela"

domingo, 13 de dezembro de 2015

REFLEXÃO SOBRE A ESSÊNCIA DO PAN AFRICANISMO (Alaru – U.C.P.A.)

Nosso velho militante José Correia Leite, na obra organizada pelo Cuti, expressa bem o que é a essência do pan africanismo, ao falar que: “... Não pode ter negro – PTB, negro – PT... O negro é um. Ele tem que ser um indivisível...”.Os quilombos, ao longo dos séculos, foram verdadeiros exemplos de unidade africana. Desde que o homem branco, covardemente usou todos os meios necessários, para oprimir de todas as formas as sociedades africanas, pessoas se levantaram em nome da unidade e solidariedade, entre as irmãs e irmãos pretos. Seja na Etiópia ou Haiti, seja nos E.U.A. ou Brasil.
“... Continuei a ter problemas de todos os tipos enquanto tentava desenvolver o tipo de organização nacionalista preta que queria criar para o afro-americano. Por que nacionalismo preto? Ora, na sociedade competitiva americana, como pode haver alguma solidariedade preta-branca antes de haver primeiro uma solidariedade preta? Se estão lembrados, na minha infância sofri a influência dos ensinamentos nacionalistas pretos de Marcus Garvey... os quais, segundo me disseram, haviam sido a causa do assassinato de meu pai. Mesmo quando era um seguidor de Elijah Muhammad, estava perfeitamente consciente de como as filosofias políticas, econômicas e sociais dos nacionalistas pretos tinham o poder de incutir nos homens pretos a dignidade racial, o estímulo e a confiança de que a raça preta precisa atualmente para deixar de ficar de joelhos, para ficar de pé e erguer a cabeça, livrar-se dos ferimentos antigos e assumir a posição que lhe cabe". (Malcolm) - Fragmento do Capitulo Dezenove, 1965. HALEY, Alex. "Autobiografia de Malcolm X". Editora: Record.
Nascido em 1754, na então colônia britânica de Massachusetts, Paul Cuffe, foi um quaker, abolicionista e capitão de mar, que dedicou boa parte de sua vida em campanhas abolicionistas e na “Volta para a África”. Seu pai Kofi, havia nascido no Reino Ashanti, e foi capturado com dez anos. Sendo levado para Massachusetts, Kofi foi comprado por John Slocum, um quaker, que "concedeu" a liberdade a Kofi em meados de 1740. Kofi adotou o nome Cuffee Slocum. Em 1746 ele se casou com Ruth. Paul foi o sétimo, dos dez filhos do casal. Cuffee Slocum trabalhou como carpinteiro, agricultor e pescador, adquiriu uma fazenda e aprendeu a ler e escrever sozinho. Ele faleceu quando Paul tinha 13 anos.
Por volta de 1778, Paul convenceu seus irmãos e irmãs a adotarem o nome do pai, Cuffee, como sobrenome. Porém Paul, passou a usar o sobrenome Cuffe, com apenas uma vogal e. Sua primeira atividade econômica foi o trabalho agrícola, realizado na fazenda herdada de seu pai. Com 16 anos, Paul Cuffe adquiriu um navio baleeiro, e mais tarde navios de carga. Ele criou a primeira escola integrada em Westport, Massachusetts.
Aos 21 anos ele recusou-se a pagar impostos, pois os pretos não tinham direito de votar. Em 1783 ele se casou com Alice Pequit, com quem teve sete filhos.
No início do século XIX, Cuffe já havia se tornado um empresário bem sucedido do ramo da navegação. E não se conformava com o tráfico de africanos escravizados.
Nessa época, mesmo num período de cativeiro, pessoas como os presidentes Thomas Jefferson e James Madison acreditavam que o retorno dos africanos para colônias fora dos E.U.A. era uma solução para a questão racial e para o processo “civilizatório” do novo país.
A partir de 1807, Cuffe passou a dedicar-se quase que integralmente na luta contra a escravização. Conduzindo africanos de volta para a África.
Cuffe juntamente com empresários de origem africana, fundaram a Sociedade Amigos de Serra Leoa, com o objetivo de promover a autonomia e a prosperidade dos africanos. Em meados de 1808, Serra Leoa era uma colônia britânica destinada às pessoas libertas dos tumbeiros que os britânicos capturavam.
Em 1812, com o conflito entre os E.U.A. e Inglaterra, Cuffe sofreu embargos e prejuízos. Porém prosseguiu com suas tentativas de levar a independência política e econômica para Serra Leoa, e posteriormente ele iniciou uma aproximação com o Haiti. Paul Cuffe faleceu em 7 de setembro de 1817, imortalizado como um importante símbolo da “Volta para a África”.
"A Etiópia estenderá as mãos para Deus! Bênção, promessa de glória! Nós depositamos confiança no Senhor e não na força dos carros e dos cavalos. E, certamente, ao verificar na história do nosso povo como ele foi preservado em seu país de exílio e como a nossa pátria foi preservada de invasões, somos forçados a exclamar: sim, até agora o Senhor nos socorreu". (Edward W. Blyden, educador, diplomata, historiador e político liberiano, 1862) - Libéria e Etiópia, 1880-1914: a sobrevivência de dois Estados africanos (Monday B. Akpan) - BOAHEN, A. Adu. (Coord.). "História Geral da Africa Vol. VII: A Africa sob dominação colonial, 1880-1935". São Paulo: Atica/UNESCO, 1991. p. 263
A Primeira Conferência Pan Africana ocorreu nos dias 23, 24 e 25 de julho de 1900. Foi realizada no salão da Prefeitura de Westminster, em Londres, Inglaterra. Entre os idealizadores estava o advogado, vereador, escritor, trinitino, Henry Sylvester Williams, o então Secretário Geral.
A construção da Primeira Conferência Pan Africana, teve início em 1897, quando Sylvester Williams, formou a Associação Africana, para combater o paternalismo, o racismo e o imperialismo. Com o objetivo de cuidar de todos os assuntos dos africanos. Em 1898 ele se dedicou em tentar reunir representantes da África e diáspora africana. Sylvester Williams visitou Birmigham, Manchester, Liverpool, Glasgow, Belfast, Dublin e inúmeros bairros de Londres. Além de viajar pela Jamaica, E.U.A. e Trinidad.
O principal colaborador de Sylvester Williams, foi seu amigo Emmanuel Lazare, outro advogado trinitino, que adotou o nome Emmanuel M’Zumbo. Devido ao orgulho de sua origem africana e em homenagem ao grande chefe M’Zumbo, do oeste africano.
Em 12 de junho de 1899, ocorreu a reunião preparatória da conferência. Entre as autoridades presentes, estava o grande professor Booker Taliaferro Washington. E para Delegado Geral para a África, foi escolhido o jornalista, haitiano Benito Sylvain, um importante assessor do imperador Menelik II da Etiópia, que havia lutado na guerra Ítalo-Abissínia.
"Nunca antes se fez tão evidente que vivemos numa época de uma nova diplomacia, a diplomacia que não leva em conta princípios fundamentais do direito internacional, do direito natural e da equidade quando se trata de pequenas nações [...] As grandes potências reúnem-se e partilham os pequenos Estados sem os consultar; e estes ficam sem defesa, já que não possuem exército nem marinha que possam responder à força com a força."
Arthur Barclay, presidente da Libéria, 1907 - Libéria e Etiópia, 1880-1914: a sobrevivência de dois Estados africanos (Monday B. Akpan) - BOAHEN, A. Adu. (Coord.). "História Geral da Africa Vol. VII: A Africa sob dominação colonial, 1880-1935". São Paulo: Atica/UNESCO, 1991. p. 26.
A Primeira Conferência Pan Africana forneceu as bases para os movimentos organizados que fizeram pressão, e colocaram em prática as ações que foram fundamentais para o processo de independência dos países africanos.
“... No dia seguinte, enquanto esperava o massa terminar a visita a um paciente numa plantação próxima, Kunta soube por outro cocheiro das últimas notícias a respeito de Toussaint, um antigo escravo que organizara um grande exército de rebeldes pretos no Haiti e o comandava com sucesso contra os franceses, espanhóis e ingleses. Toussaint, disse o cocheiro, aprendera tudo sobre a guerra lendo livros a respeito de guerreiros antigos famosos, como Alexandre, o Grande e Júlio César. Os livros tinham sido dados pelo antigo massa dele, a quem ajudara a fugir do Haiti para os Estados Unidos. Ao longo dos últimos meses, Toussaint transformara-se num verdadeiro herói para Kunta, logo abaixo do lendário guerreiro mandinga Sundiata. Kunta mal podia aguardar o momento de voltar para a plantação e transmitir para os outros a história fascinante ...”. HALEY, Alex. "Negras Raízes". São Paulo: Círculo do Livro. Capítulo 66. p. 361
Nós da União dos Coletivos Pan Africanistas, filhos da amada, sagrada e gloriosa mãe África; descendentes de Nzumbi,  temos entre nossas principais referências o amor com as irmãs e irmãos pretos, de Biko; a determinação e luta  incorruptível, de Malcolm; a força e capacidade de organização, de Garvey, um homem do povo, capaz de conquistar as massas; a coragem, de Yaa Asantewa; a compreensão e entendimento, de Angela Davis; a capacidade de ação, de Huey Newton; e a essência do pan africanismo de nosso amado herói Luiz Gama.
“... Milhões de homens livres... da África, roubados, escravizados, azorragados, mutilados, arrastados neste país clássico da sagrada liberdade, assassinados impunemente, sem direitos, sem família, sem pátria... espoliados em seu trabalho, transformados em máquinas, condenados à luta de todas as horas e todos os dias... em proveito de especuladores cínicos, de ladrões impudicos, de salteadores sem nome; que tudo isso sofreram e sofrem, em face de uma sociedade opulenta, do mais sábio dos monarcas, à luz divina da santa religião católica, apostólica, romana...”. (Luiz Gama) - Fragmento da carta a Ferreira de Menezes. De 13 de dezembro de 1880. - Publicada na A Província de São Paulo, de 18 de dezembro de 1880.

(Alaru – U.C.P.A.)
UCPA - 15° ENCONTRO DOS FILHOS DA ÁFRICA
SÁBADO - 12/DEZ/2015 - Local: Casa da Irmã Rose e Ras Sérgio

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