"Nzambi a tu bane nguzu um kukaiela"

quarta-feira, 10 de março de 2010

Partilha da África: "O contexto da Conferência de Berlim e seus resultados"

Os europeus estabeleceram suas primeiras feitorias na África a partir do século XV. A invasão no primeiro momento ocorreu em pontos esparsos das costas do continente africano.
Segundo Alan P. Meriam, em "Congo: nos bastidores do conflito":
'A primeira exploração da região do Congo de que se tem notícias precisas, é a descoberta da foz do rio Congo, em 1482, por um explorador português, Diogo Cão, que o chamou Zafre, que se supõe derivado da palavra africana Zadi, ou "água grande". Na margem direita, num ponto hoje denominado Ponta Padron, ele ergueu uma pedra em que se achavam gravadas as armas de Portugal e uma cruz. Esse marco foi derrubado por exploradores holandeses, em 1642, e redescoberto por um viajante sueco, em 1886, e está hoje no museu da Sociedade de Geografia, em Lisboa'.
Sobre Angola, Roy Glasgow em "Nzinga", cita que:
"O contato luso-africano inicial em Angola deu-se aparentemente pouco antes de 1504, quando alguns mercadores portugueses, que não estavam satisfeitos com a posição do monopólio comercial de seus compatriotas no Congo, chegaram a Ndongo e convenceram o Ngola Irene a enviar um embaixador ao rei de Portugal (...)".



A partilha da África em colônias dos países salteadores ocorreu plenamente no final do século XIX.
Mais de 90% da África foi roubada entre a segunda metade do século XIX e o inicio do século XX.
O ódio, a colaboração dos missionários, a estratégia de dividir para dominar, e a tecnologia bélica, foram elementos fundamentais para a interiorização da África.
Os assaltantes interessados na expansão européia, defendiam seu abuso com base na suposta "superioridade" da civilização industrial ocidental: As características biológicas da "raça" branca; a fé religiosa cristã; e o desenvolvimento técnico e científico desenvolvido durante a Revolução Industrial.



O canalha rei belga, Leopoldo II, foi um dos precursores desse processo. Em 1876 apropriou-se violentamente do Congo, território que se tornou seu quintal.



Há 125 anos - no dia 26 de fevereiro de 1885 - a partilha da África foi oficializada na Conferência de Berlim.



Além de Inglaterra, França, Espanha e Portugal; a Alemanha, Itália e Bélgica participaram do crime, com a cumplicidade dos E. U. A. e de seis países europeus.



É sabido que, as nações que hoje compõem o "Primeiro Mundo", enriqueceram através do: saque, imposição, genocídio, roubo, exploração e fomentação de rivalidades, tendo como pretexto a "missão civilizatória".



A Conferência foi convocada pelos alemães que haviam iniciado sua industrialização.
Eles unificaram seus estados em 1871, formando o Império Alemão.



"As grandes questões do nosso tempo não serão solucionadas por revoluções e votos majoritários - este foi o erro dos homens de 1848 e 1849 - mas por sangue e ferro"
(Otto von Bismarck - chanceler alemão)



As principais possessões britânicas na África eram: Nigéria, Costa do Ouro, Serra Leoa, Gâmbia, Rodésia, Quênia, Uganda e Somália britânica. Com a vitória contra os colonos holandeses, na Guerra dos Bôeres, os ingleses incorporaram aos seus domínios, a região do sul da África, com o nome de União Sul Africana.
"O mundo está quase todo parcelado, e o que dele resta está sendo dividido, conquistado e colonizado. Eu, se pudesse, anexaria os planetas. Penso sempre nisso. Entristece-me vê-los tão claramente e, ao mesmo tempo, tão distantes".
(Cecil John Rhodes)
O britânico, Cecil John Rhodes, invasor do Zimbabwe, defendia a proposta de construir uma estrada de ferro que ligasse a cidade do Cabo ao Cairo.
A rainha Vitória ocupou o trono britânico de 1837 a 1901, período que a política industrial e colonialista britânica, atingiu seu apogeu. O Império Britânico, "dominou" um quinto da superfície da Terra, subjugando 23 % da população mundial.



O império colonial francês apropriou-se de: Argélia, Tunísia, territórios da África Ocidental e da Ilha de Madagascar. Depois de uma disputa com a Alemanha, em 1911, a França ocupou o Marrocos.
A tropas especiais francesas, conhecidas como "Legião Estrangeira", eram formadas por criminosos e aventureiros em busca de recompensas materiais.
"Para os países industriais exportadores, a expansão colonial é uma questão de salvação.
Em nosso tempo, e diante das crises que atravessam as industrias européias, a fundação de colônias representa a criação de uma válvula de escape para nossos problemas. (...)
Devemos dizer abertamente que nós, pertencemos às raças superiores, temos direitos sobre as raças inferiores. Mas também temos o dever de civilizá-las".
(Jules Ferry - min. francês)


Portugal "semicolônia" da Inglaterra, manteve os domínios conquistados na época da expansão marítima do século XVI: Angola, Guiné, Moçambique, Cabo Verde, e São Tomé e Príncipe.
Espanha era um país agrário, apropriou-se do: Saara espanhol, Ilhas Canárias, e das cidades de Ceuta e Melilay, entrepostos comerciais localizados no litoral marroquino.



A Alemanha apropriou-se do: Togo, Tangânica e Namíbia.
A Itália, apropriou-se de: Líbia, Eritréia e de Somália Italiana.



Os únicos países africanos que se manterem independentes foram: "Libéria", que era explorada pelos E.U.A.; e Etiópia, que derrotou a Itália em 1896.
Para alcançar o objetivo imperialista, racista, o invasor usava métodos para a destruição da condição espiritual e de identidade do africano. Um sistema de dominação que oprime de todas as formas, com a imposição política, econômica, linguística, educacional, religiosa, social e cultural.
Nesse processo, os criminosos vendiam seus produtos industrializados a preços elevados e compravam as matérias primas a preços baixíssimos. Assim as empresas dos países imperialistas obtinham grandes lucros.


Para evitar a concorrência com seus produtos, as metrópoles dificultavam o desenvolvimento industrial nas colônias. As únicas indústrias incentivadas eram as de extração mineral e vegetal.
É sabido também que, os conflitos étnicos e religiosos de hoje, são fruto dos crimes de genocídio, espoliação, imposição e exploração, cometidos pelos imperialistas.
Quando não eram expulsos de suas terras, comunidades inteiras eram submetidas a trabalhos forçados na agricultura, na mineração, e na construção de portos e estradas de ferro.
Os descendentes das sociedades autóctones hoje sofrem com a sujeira deixada em séculos de devastação.



Alaru Jagunjagun Oniluap (UCPA)

Bibliografia:

BOAHEN, A. Adu (coord.). "História Geral da África. VII. A África sob dominação colonial, 1880-1935". Trad. João Alves dos Santos. São Paulo: Unesco, 1991.
BRUIT, Héctor H. "O Imperialismo". São Paulo: Atual, 2002.
BRUNSCHWIG, H. "A partilha da África Negra". Trad. Joel J. da Silva. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 2001.
CATANI, Afrânio M. "O que é imperialismo?" São Paulo: Brasiliense, 1989.
CHACON, Vamirh. "A Questão Alemã". São Paulo: Scipione, 1992.
FERRO, "História das colonizações: das conquistas às independências. Século XIII a XX". Trad. Rosa Freire D'Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
GLASGOW, Roy. "Nzinga". Trad. Silvia Mazza, J. Guinsburg e Fany Kon. São Paulo: Perspectiva, 1982.
HOBSBAWM. "A era dos impérios (1875-1914)". 9. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2005.
IBAZEBO, Izimeme. "Explorando a África". São Paulo: Ática, 1997.
LENINE, V. I. "Imperialismo: estágio supremo do capitlismo". Coimbra: Nosso Tempo, 1974.
MERRIAM, Alan P. "Congo nos bastidores do conflito". Trad. Sérgio Moraes Rêgo Reis. Rio de Janeiro: Letras e Artes, 1963.
MESGRAVIS, Laima. "A colonização da África e da Ásia: a expansão do imperialismo europeu no século XIX". São Paulo: Atual, 1994.

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